A crescente urbanização, as dinâmicas populacionais e os desafios relacionados ao acesso à água e à destinação de resíduos sólidos são alguns dos fatores determinantes para a ocorrência de arboviroses no Brasil, como a dengue, zika e chikungunya. Segundo dados recentes, mais de 5 mil municípios no país têm a presença do mosquito Aedes aegypti, vetor responsável pela transmissão dos vírus causadores dessas doenças. Diante desse cenário, o Ministério da Saúde vem fazendo uso de tecnologias com evidências científicas para fortalecer o controle vetorial, especialmente em cidades com mais de 100 mil habitantes, que concentraram mais da metade dos casos prováveis de dengue entre 2013 e 2022.
As ações fazem parte do Plano de Ação para Redução da Dengue e outras Arboviroses, lançado em setembro pelo presidente Lula e a ministra da Saúde, Nísia Trindade.
Estratégias
O passo inicial, principalmente para os municípios de grande porte, é realizar a avaliação do risco e caracterização do território municipal, considerando os principais fatores que podem contribuir para a infestação dos mosquitos vetores. O monitoramento entomológico por ovitrampas somado aos levantamentos de índices larvários (LIRAa e LIA) permitem uma vigilância permanente da infestação, possibilitando o direcionamento de ações a partir das ovitrampas (armadilhas usadas para capturar os ovos do mosquito).
Confira a seguir as novas tecnologias para o controle do Aedes aegypti que são recomendadas pelo Ministério da Saúde:
Monitoramento entomológico por ovitrampas
As ovitrampas, também chamadas de armadilhas de oviposição, são pequenos recipientes de plástico, que servem para que as fêmeas do Aedes coloquem seus ovos. Poucos dias após a instalação, é feita a substituição da palheta e os ovos são retirados do ambiente pelo agente de endemias, antes que nasçam as larvas do mosquito. A armadilha serve para indicar a presença de Aedes aegypti e Aedes albopictus no local, a quantidade de ovos produzida por área e, ainda, ajuda a remover os ovos do vetor da natureza.
O método Wolbachia
O método consiste na liberação de Aedes aegypti infectados com uma bactéria chamada Wolbachia. A Wolbachia é uma bactéria que não infecta o homem ou animais vertebrados, mas que nos mosquitos Aedes aegypti impedem que os vírus da dengue, zika e chikungunya se desenvolvam, contribuindo para redução da transmissão destas doenças.
Os mosquitos com Wolbachia são liberados para que se reproduzam com os Aedes aegypti locais estabelecendo, aos poucos, uma nova população destes mosquitos, todos com Wolbachia . Os ‘wolbitos’, como são chamados, não são transgênicos e não transmitem doenças. Com o tempo, a porcentagem de mosquitos que carregam o microrganismo aumenta, até que permaneça alta sem a necessidade de novas liberações. Por esta razão, ele é considerado um método autossustentável.
Borrifação residual intradomiciliar (BRI- Aedes)
A borrifação residual intradomiciliar consiste na aplicação de inseticida residual em partes das paredes internas de imóveis especiais (IE). Assim, quando o mosquito pousar sobre essas paredes, entrarão em contato com o produto. Ainda, a BRI pode promover repelência dos mosquitos, evitando que eles permaneçam no interior do imóvel.
Classifica-se como imóveis especiais aqueles onde há grande circulação de pessoas durante o dia, já que o mosquito Aedes tem hábitos diurnos. Como exemplo de imóveis especiais estão as estações rodoviárias e de metrô, prédios públicos, escolas, centros comunitários, cooperativas de recicladores, centros de saúde, igrejas etc. É importante ressaltar que esta técnica é segura à população, animais domésticos e meio ambiente.
Inseto estéril
A técnica do inseto estéril por irradiação (TIE-Irradiado) é baseada na liberação de um grande número de mosquitos machos estéreis que, ao copular com as fêmeas, produzem ovos inférteis. Desse modo, é feita uma redução gradativa da população de mosquitos na área. Vale ressaltar que os mosquitos estéreis irradiados não picam as pessoas, pois apenas são liberados os machos. Além disso, vivem tempo o suficiente apenas para procurarem as fêmeas para a cópula.
A técnica se mostra promissora como ferramenta alternativa em locais que o mosquito demonstra um perfil de resistência acentuada a inseticidas ou áreas onde a aplicação não é permitida, como por exemplo áreas de proteção ambiental infestadas por Aedes aegypti , onde existam residências humanas próximas umas às outras. Por esta razão, é uma estratégia adequada para utilização em áreas indígenas localizadas em áreas de preservação ambiental, onde o uso de inseticidas não é permitido.
Estações Disseminadoras de Larvicidas (EDLs)
A disseminação de larvicida é uma tecnologia de controle populacional de mosquitos, que atrai as fêmeas de Aedes aegypti e Aedes albopictus até recipientes, chamados de Estações Disseminadoras de Larvicida (EDLs), impregnados com larvicidas à base de reguladores de crescimento de insetos.
Ao pousar nas EDLs, as micropartículas do larvicida aderem ao corpo do mosquito. Como as fêmeas de Aedes visitam muitos criadouros para colocar parte dos ovos em cada um, elas disseminam o larvicida, contaminando a água desses criadouros, em um raio que pode variar entre 300 e 400 metros. Desta forma, a água dos criadouros passa ter o potencial de interferir no desenvolvimento das larvas que, dependendo da concentração do larvicida que houver no criadouro, podem não alcançar a fase adulta.
Uma das indicações de uso de EDL são as áreas de difícil acesso como na periferias de grandes centros urbanos e onde os criadouros predominantes do mosquito sejam depósitos ao nível do solo para armazenamento doméstico como tonel, tambor, tina, depósitos de barro e caixa d`água, bem como depósitos móveis – vasos e frascos com água, pratos, garrafas retornáveis, pingadeira, recipientes de degelo em geladeiras, bebedouros em geral, pequenas fontes ornamentais e materiais em depósitos de construção (sanitários estocados, canos, etc.).
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Imagem em destaque: Agência Gov